Friday, September 21, 2007

Schnitzel

Schnitzel sabia eu desde os primórdios da minha aventura na Alemanha que era um Panado em português, um panado com muito óleo. Quando não tenho ninguém a meu lado para me desenrascar e as coisas não estão expostas na montra para que possam ser apontadas com um só dedo, digo Schnitzel, bite! Para acompanhar, e porque quando estou sozinho evito seguir rituais e só como quando tenho realmente fome e, quando tenho essa fome toda estou sempre sem tempo, peço, habitualmente, coke, “couca” se quisermos escrever em português o som que fazemos ao dizer coca, como diminutivo da Coca-cola, em alemão. Bem, naquele dia estava mesmo com muita pressa e, como trazia comigo uns daqueles iogurtes metidos em garrafa de sumo que nem são bem iogurtes mas também não são bem sumos, decidir pedir alguma coisa para comer à pressa. Faltavam apenas 5 minutos para a próxima reunião e ficaria muito mal eu chegar, mais uma vez, atrasado.
Perguntei à senhora se falava inglês. Faço sempre isso. Quando peço de comer prefiro a linguagem oral à gestual. Ela disse-me, como eu já estava à espera, que “não” que dava apenas um toques em “russo”. Como poderão reparar pelas aspas eu apenas entendi “não” e “russo” e, russo, deduzi o resto. Cá para mim ela disse-me que inglês para ela era russo, da mesma forma que alemão para mim é chinês. Muito bem, quando estou por tudo entro na segunda fase do procedimento para garante da sobrevivência da minha espécie: tento apontar algo comestível na montra. Raios!, naquele dia nem queijo me lembrava como se dizia! Se me lembrasse seria fácil, Brot mit queijo bite e teria um pão com queijo por favor. Apontei então para um embrulho que me parecia ter dentro um pão com qualquer coisa, pelo menos o desenho do embrulho indicava isso. E perguntei, claro, o que era aquilo - Conheço apenas um gesto que não precisa de ajudas verbais, o gesto que qualquer pessoa usa para pedir a conta: É só rabiscar no ar em jeitos de quem está a assinar no vazio. Qualquer pessoa entende que com aquele gesto pretendemos “a conta se “faxavor””. Ela olhou o embrulho e disse-me Schnitzel! Eu entendi schnitzel. Numa prateleira de pães é normalíssimo ter sandes de panado, de queijo, de fiambre, e tudo o resto. A minha vida ficou definida a partir dali. Schnitzel com aquela coisa que nem é iogurte nem é sumo e estava arrumado para o resto da tarde. Pedi um schnitzel, eu disse schnitzel!, e decidi saborear o almoço no carro. Estava já em cima da hora para a reunião mas ainda me deu tempo para respirar fundo, afinar as minhas papilas gustativas, meter todas as glândulas a funcionar e…
…E abri o embrulho e pensei que aquilo era uma brincadeira! Dentro dele estava pão ralado! Sim, Pão Ralado! Como não sei cozinhar não associei a princípio e já estava a pensar partir a cara à padeira. Mas não, é com pão ralado e ovo que se fazem os panados. Fiquei ralado com a situação, pois claro está. Como não tive coragem de passar pela vergonha de ir à mesma loja comprar outra coisa que escorregasse melhor na garganta, lá fui para a reunião sem sabor, nem cheiro, a Schnitzel.

Sunday, September 16, 2007

Tame me

“I am a fox”, the fox said.
“Come and play with me,” proposed the little prince.
“I am so unhappy”.
“I cannot play with you,” the fox said. “I am not tamed.”
“Ah! Please excuse me,” said the little prince. But, after some thought, he added: “What does that mean – ‘tame”?”
...
“It’s an act too often negleted,” said the fox. “It means to estabilish ties.”
“’To estabilish ties’?”
“Just that,” said the fox. “To me, you still nothing more than a little boy who is just like a hundread thousnad other boys. And I have no need of you. And you, on your part, have no need of me. To you, I am nothing more than a fox like a hundred thousand other foxes. But if you tame me, then we shall need each other. To me, you will be unique in all the world. To you, I shall be unique in all the world...”

“Please - tame me!” he said.
“I want to, very much,” the little prince replied. “But I have not much time. I have friends to discover, and a great many things to understand.”
“One only understands the things that one tames,” said the fox.
...
“What must I do to tame you?”, asked the little prince. “You must be very patience,” replied the fox. “First you will sit at a little distance from me – like tat – in the grass. I shall look at you out of the corner of my eye, and you will say nothing. Words are the source of misunderstandings. But you will sit a little closer to me, every day...”

So the little prince tamed the fox. And when the hour of his departure drew near – “Ah,” said the fox, “I shall cry?”
“It is your own fault,” said the little prince. “I never wished you any sort of harm; but you wanted me to tame you...”
...
“Goodbye,” he said.“Goodbye,” said the fox. “And now here is my secreted, a very simple secret: It is only with the heart that one can see rightly; what is essencial is invisible to the eye.”
in The Little Prince, from Antoine de Saint-Exupéry